Um dia
Vertida de desejo
Suas mãos me delineiam
Arrepiam o meu corpo
Comprimem sopros descompassados de meus lábios
Extraem sussurros líricos em seus ouvidos

Transpiro de tanto calor
Exalando o olor do prazer
Das peles que se encostam
E se colam de tão molhadas
Em contraste com meu corpo completamente em brasas

Num fluxo contínuo
Causador de tamanho apetite
Intensificam-se meus sentidos
Ao destilar cada gota que brota de seus poros
Atenta a cada um de seus suspiros

Envolvo-me nessa dança
E ao mirar seus olhos
Aperto suas costas
Largo-me em seus braços
Que me conduzem à afrodisia
Levando-me ao ápice da satisfação
Carta para uma Grande Amiga

Minha Flor, temos dentro de nós uma dor latente e incurável. Coisa que nos liga de alguma forma. Assim como os enfermos que se unem por compreenderem que somente eles sabem reconhecer as dores um do outro, nós nos reconhecemos pela nossa aflição. Nossos signos se entrelaçaram nos significados. E se nos traduzimos através do oposto, incrivelmente consiguimos a peculiaridade do singular. O que nunca consegui distinguir é se essa dor é inerente ao nosso ser ou se a construímos para sublimarmos uma companhia a nosso espírito solitário. Será ela a concretização do nosso medo? De qualquer forma, temos ou criamos algo que nos funde. E de seres sozinhos, viramos séquitos. Proeza essa que ajuda a diminuir a dor que nos associa. Contraditório? Não. Se não nos tivéssemos, nos entregaríamos a náusea. Necessitamos da força do acalanto para sobrevivermos. Se mergulhássemos tão fundo, sozinhas, não teríamos retorno. Gozar completamente é morrer para a vida, é eliminar o que te une a matéria, ao outro. É transcender ao Nirvana. É desistir de se manter humana. Suas águas escuras são o mistério que instiga. Seu caminhar pelas sombras é testar a capacidade do outro de conseguir caminhar a seu lado sem precisar do auxílio de luz. Dê o revirão, mude, some, divida, compartilhe, mas sem se preocupar em alcançar o cume. Recupere o fôlego para continuar na trilha, desinchar os pés, amenizar as dores. Estou te esperando na próxima curva. Não me decepcione! Te Amo Nêga.....
Sessão da Tarde
Em minha Sincity não existe violência explícita.
Os Cães que Alugo são dóceis e medrosos,
os Assassinos não são os que matam à Queima Roupa,
mas sim os de Maus Hábitos,
que hoje de nova roupagem impõem Silêncio aos Inocentes!
De Indiana Jones à Super Homem,
a Guerra pelas Estrelas destruiu nossos heróis.
Matou Macunaíma , Jeca Tatu e Jece Valadão.
Para sobreviver,
ao invés de Encarnar o Demônio e matar todos os Leões de 7 Cabeças
fomos à Cidade de Deus e montamos nossa Tropa de Elite.
Em épocas de Má Educação, só Ensaiando uma Cegueira para continuar na luta....
A Doce Vida de hoje se transformou nos efeitos da imagem,
na violência
ou no vazio de um Feliz Natal!
Apresentando que os Ainda Orangotangos,
não conseguem distinguir os 10 Porcento de Verdade
se deixando iludir pelos Jogos de Cena
das Cinderelas, Lobos e Príncipes Encantados.
Transcendentalizando

Na selva de pedra do salve-se quem puder, constantemente grito pelo Superbacana ou pelo Kid Morengueira.
Ainda mais numa terça-feira.
Pois saturada dessa Nação de concreto, tenho rastejado no manguetal de sapos e caranguejos
E levar minha alma para passear, nem assim tem dado jeito ...
Por isso decidi matar Lupicínio e deixar Pixinguinha chorando sozinho na Luz Negra de Nelson Cavaquinho.
Refazendo-me,
Para que as Rugas de Ciro não façam parte do meu rosto,
Chamei Ossanha e clamei Chega de Saudade numa prece
Mas acabei subindo o morro de carona com o Rei no Calhambeque.
Juro que como Ismael pensei em me regenerar,
Mas como tudo ficou na Ladainha, preferi a orgia, e
Mutante como sou, viajei para o País dos Baurets
no Balão Mágico de Raulzito
Racionalizando e assimilando o novo Universo sem nenhum Desencanto
Pois desvendar o Mistério dos Planetas
Acabou com qualquer pranto
Já que nesse Circo Sem Futuro
Temos que inventar Cordéis que nos Transfigurem e curem!
Saudade

Saudade é viver fora do instante
Não ser presente
Ser pretérito futuro
De pretérito não vivido
Para futuro que não será

Saudade é angústia que consome
Sentimento que não se come
Se morre de fome

Saudade é viver sem estar
Não é o agora
É um o que virá
Do agora não vivido
Pelo que virá que nunca acontecerá
Água Viva

Parada, completamente inerte. De olhos fixos para baixo, vejo a água, que corre, límpida, diáfana, gelada. Seu gelo não sinto, mas o adivinho. Do simples saber de experiências passadas. Seu destino não sei, mas imagino. Que sendo filtrada por todas as pedras que inertes como eu fitam o seu percurso, desembocará ao encontro de si. Num lago, confluindo com a água que ali já estava. Ou de seu oposto. Num mar, onde a aspereza do sal não intimida o desejo de misturar-se ao mistério da profundidade. Mas o que pretendia falar era do medo. O qual me coloca nesse estado imóvel. Que não é o medo do encontro. É o medo do lançamento. Já pulei dessa altura outras vezes, mas dessa vez, algo me faz parar e achar que não vou conseguir. Estatizada, penso em tudo o que pode acontecer caso meu pula saia errado, descompassado. Um descálculo, um deslize e não saio mais da água, e em segundos o futuro após o lançar estará desfeito. Indecisa, o medo começa a subir pela espinha, lentamente. Arguto, se faz delicado e racional ao mesmo tempo que petrifica e entontece. A lucidez é a desculpa do medo. Com prudência sento na pedra e balanço minhas pernas. A gravidade as puxa e me ampara na decisão de não mergulhar. Prefiro o caminho das pedras ao ar, penso. Desço e já à beira, entro cuidadosamente. A cada passo a água gelada que está, me agulha sem piedade. Não me agulharia assim se a invadisse num só pulo. Pedindo licença singelamente, ela me analisa de forma grosseira. Submergida, olho para cima. E mesmo embaçado, consigo observar o quão alto estava. É, dessa forma estou mais confortável. Nado e me integro à água, à vida. Queria o salto, mas no momento, o caminhar se coloca menos tenso.
.?!...

palavra muda
de um silêncio ensurdecedor
palavra cega
pela ausência de cor
sem sentidos, se perde
em seu próprio lar

e a que era minha heroína
debilitada não socorre
confunde
arruína

composta de interrogações
e reticências
e pontos finais
exclamo pela palavra
afirmando minha dependência
nego-me

acompanhada de interjeição
dessentida sei que não está
e mesmo angustiada
sei que a melhor solução é aguardá-la

vai se recuperar...
e eu também!
será?
vai.

Cia

Sinto Um
lento e ansioso
Estranho Desejo
letárgico e latente
De Estar
só e junto

Estando
acompanhada
Estranho
agito
Sinto
aflição

Sentindo
vagoroso
Estranho
torpor
Estar
desemparada
Vida à morte

Toda manhã tem sua rotina
O que se prepara antes do sol nascer

Corpos trôpegos voltam às casas
asfixiados e viciosos
Corpos servis caminham às castas
acostumados e vigorosos
Corpos insanos vagueiam às calçadas
afrásicos e vociferosos

Amor ao povo
Guerra é paz
Trabalho ao povo
Liberdade é escravidão
Diversão ao povo
Ignorância é força

Nosso estado não tem mais disposição
completamente anestesiado
Nosso passado não tem mais memória
simplesmente condicionado
Nosso mundo não tem mais espaço
totalmente vigiado

Toda manhã tem sua rotina
O que se prepara antes do sol se pôr.
Pensando ...

Já sou antes mesmo de saber que algo sou, e sempre serei o que nunca
saberei o que sou. Nada sou, nada acaba. Mas ... Tudo se recicla, se
transmuta, se muta? Modificar para coisas que nunca antes foram.
Transformar para o desconhecido ainda indisvendável. O mistério que
nunca se descobriu, que se diluiu, que novamente não se desvendará. O
círculo que nos prende, o vício que nos sustenta, a máscara de
recriar, a realidade de reproduzir. Pensamentos dicotômicos, prisão
binária. Os opostos se completam, quero achar meu meio.
Beber só para distrair

Um transbordar de sentimentos implausíveis, incalculáveis, intendíveis. Sentimento in, a, de não. In-conformam com forma de berros de ah, de não querer mais sentir aquilo não. Incontrolável tentar parar e mesmo que se tente acobertar o medo de não impossibilita o acordar. Senti que parou, mas por breve tempo de felicidade (se assim poderia chamar). O copo ajudou, a mente reclamou, o corpo cansou e como nada se compreendeu, a dor voltou. Paciência, tolerância, só o tempo cura (mas que tempo maldito que só se demora). Inconformada decidi acalmar, mas de não pulsou com ah constante em meu inconsciente que as horas de paz foram breves ilusões. Corri para lá e para cá, pensei em viajar, fugir, me matar (não de corpo, mas de emoção). De nada resolveu. O transbordar continuou e a bebida se desperdiçou. A mesa já toda molhada, e eu desidratada. Aí então comecei a compreender. O excesso se foi, e tomei o que me restou para em lágrimas sair. Com o copo vazio enchi para novamente transbordar (vícios humanos, círculo sem fim), e com sentimentos sem prefixos dessa vez tentar.
Ontem

A música alivia
O que o pensamento angustia
Até como uma forma
De transformar a afazia

Andando pelas folhas secas
Da Mangueira de Cartola
Nadando na lama
Dos Mangues do Nação
Dançando a ciranda
Na Paraíba de Zé Ramalho
Ou até gritando alto
O rock do Tremendão

Embalado na embolada
No de repente do repente
Cantando nas laranjeiras
Versos do meu pé de goiabeira

Sem saber qual será o próximo som
Nem mesmo o verso
Do pout pourri de tons
E ritmos diversos
Atento bem os ouvidos
Buscando mais uma trilha
Sempre sem explicação
Porque o controle é mera falsaria

Numa melodia binária
Que provoca até azia
Queimação e salivação
Mas que termina numa só alegria
Redundância

Me construo em excessos.
Transbordo a cada suspiro.
Meus limites não me bastam.
Tento escoar isso e não consigo.

Não me importo com quem esteja
Não me pertuba as horas sós
Só quero que quando seja
Possa esvair-me em suas mãos
Sentir a alma, a carne e o osso
Sentir lento e sentir muito
Dar propósito à carroça do Nada
Transformá-la em Tudo

Quero isso e mais aquilo
Na verdade quero tudo!
Sorver até a última gota
Me fundir, me desfazer ...
até o momento de reescrever Tudo.

Reescrever a cada dia,
Reescrever a cada instante,
Reescrever mentiras e verdades,
estórias, contos, sons e imagens
Reescrever só. Reescrever junto.
Transformar a vida em Um
e depois desfazer e refazer
Desde que seja bem fundo ...

Na fronteira ainda não encontrada
Pois a que existe não é suficiente
Quero perceber a vida
com sua alma presente.
Escrevo

Escrevo porque vervo meu desterro
Parcos verbos que aludem
Arquitetados logos que iludem

Invento meu intento
Itenso e só

Desejo o que não vejo
Mordo o pó

Viso o conserto
Desato o nó

Escrevo porque crio meu enterro
Palavras santificam meus acertos
Apagogiados ficam os defeitos
O plural que me habita

Não tenho opostos
Tenho características várias
Que contradizem
Para o que dizem

Sou Unicidade
Que ao ser colocada na diversidade
Se traduz refratada
Fragmentada

A que age em variadas circunstâncias
A que diverge em inúmeras ações
A que quebrada
Ainda pode ser colada

A Má
A Lice
A A ou a
Há ... que ainda vai se tornar