Carta para uma Grande Amiga

Minha Flor, temos dentro de nós uma dor latente e incurável. Coisa que nos liga de alguma forma. Assim como os enfermos que se unem por compreenderem que somente eles sabem reconhecer as dores um do outro, nós nos reconhecemos pela nossa aflição. Nossos signos se entrelaçaram nos significados. E se nos traduzimos através do oposto, incrivelmente consiguimos a peculiaridade do singular. O que nunca consegui distinguir é se essa dor é inerente ao nosso ser ou se a construímos para sublimarmos uma companhia a nosso espírito solitário. Será ela a concretização do nosso medo? De qualquer forma, temos ou criamos algo que nos funde. E de seres sozinhos, viramos séquitos. Proeza essa que ajuda a diminuir a dor que nos associa. Contraditório? Não. Se não nos tivéssemos, nos entregaríamos a náusea. Necessitamos da força do acalanto para sobrevivermos. Se mergulhássemos tão fundo, sozinhas, não teríamos retorno. Gozar completamente é morrer para a vida, é eliminar o que te une a matéria, ao outro. É transcender ao Nirvana. É desistir de se manter humana. Suas águas escuras são o mistério que instiga. Seu caminhar pelas sombras é testar a capacidade do outro de conseguir caminhar a seu lado sem precisar do auxílio de luz. Dê o revirão, mude, some, divida, compartilhe, mas sem se preocupar em alcançar o cume. Recupere o fôlego para continuar na trilha, desinchar os pés, amenizar as dores. Estou te esperando na próxima curva. Não me decepcione! Te Amo Nêga.....

Um comentário:

Fabio Oliveira disse...

Dor esta, que está presente em todos nós, semelhantes e enfermos. É um espelho que reflete o outro em nós. A calma que invade a alma, é a mesma que foge dela quando chega a tormenta.

Eu também nunca consegui distinguir essa dor, nem sei se vou um dia. Talvez, o melhor é senti-la e deixar ela passar.

Já não teremos retorno mesmo sem mergulhar a fundo. A dor ou a alegria são sensaçoes. Atalhos da vida, mas que não reconstroem entre si os danos causados por um ou por outro estado. Ficaremos sempre no fim de tudo, com as mesmas e velhas conseqüências de nossas alegrias e tristezas.

A conseqüência do gozo é o cansaço em pleno relaxamento. É também um morrer para a vida. Eu já morri pela vida, e continuo vivendo apesar dos dissabores, desilusões e desamores.

O caminho que não é o meu
O cantinho que não é o meu
O carinho que também não é o meu

Gostei Alice, também preciso muito aprender ... aprender sobre a vida.

Tua carta está linda, cheia de caminhos dificeis de trilhar, dificeis de decifrar ...


Beijos.

Búfalo Suburbano.