Cia

Sinto Um
lento e ansioso
Estranho Desejo
letárgico e latente
De Estar
só e junto

Estando
acompanhada
Estranho
agito
Sinto
aflição

Sentindo
vagoroso
Estranho
torpor
Estar
desemparada
Vida à morte

Toda manhã tem sua rotina
O que se prepara antes do sol nascer

Corpos trôpegos voltam às casas
asfixiados e viciosos
Corpos servis caminham às castas
acostumados e vigorosos
Corpos insanos vagueiam às calçadas
afrásicos e vociferosos

Amor ao povo
Guerra é paz
Trabalho ao povo
Liberdade é escravidão
Diversão ao povo
Ignorância é força

Nosso estado não tem mais disposição
completamente anestesiado
Nosso passado não tem mais memória
simplesmente condicionado
Nosso mundo não tem mais espaço
totalmente vigiado

Toda manhã tem sua rotina
O que se prepara antes do sol se pôr.
Pensando ...

Já sou antes mesmo de saber que algo sou, e sempre serei o que nunca
saberei o que sou. Nada sou, nada acaba. Mas ... Tudo se recicla, se
transmuta, se muta? Modificar para coisas que nunca antes foram.
Transformar para o desconhecido ainda indisvendável. O mistério que
nunca se descobriu, que se diluiu, que novamente não se desvendará. O
círculo que nos prende, o vício que nos sustenta, a máscara de
recriar, a realidade de reproduzir. Pensamentos dicotômicos, prisão
binária. Os opostos se completam, quero achar meu meio.
Beber só para distrair

Um transbordar de sentimentos implausíveis, incalculáveis, intendíveis. Sentimento in, a, de não. In-conformam com forma de berros de ah, de não querer mais sentir aquilo não. Incontrolável tentar parar e mesmo que se tente acobertar o medo de não impossibilita o acordar. Senti que parou, mas por breve tempo de felicidade (se assim poderia chamar). O copo ajudou, a mente reclamou, o corpo cansou e como nada se compreendeu, a dor voltou. Paciência, tolerância, só o tempo cura (mas que tempo maldito que só se demora). Inconformada decidi acalmar, mas de não pulsou com ah constante em meu inconsciente que as horas de paz foram breves ilusões. Corri para lá e para cá, pensei em viajar, fugir, me matar (não de corpo, mas de emoção). De nada resolveu. O transbordar continuou e a bebida se desperdiçou. A mesa já toda molhada, e eu desidratada. Aí então comecei a compreender. O excesso se foi, e tomei o que me restou para em lágrimas sair. Com o copo vazio enchi para novamente transbordar (vícios humanos, círculo sem fim), e com sentimentos sem prefixos dessa vez tentar.
Ontem

A música alivia
O que o pensamento angustia
Até como uma forma
De transformar a afazia

Andando pelas folhas secas
Da Mangueira de Cartola
Nadando na lama
Dos Mangues do Nação
Dançando a ciranda
Na Paraíba de Zé Ramalho
Ou até gritando alto
O rock do Tremendão

Embalado na embolada
No de repente do repente
Cantando nas laranjeiras
Versos do meu pé de goiabeira

Sem saber qual será o próximo som
Nem mesmo o verso
Do pout pourri de tons
E ritmos diversos
Atento bem os ouvidos
Buscando mais uma trilha
Sempre sem explicação
Porque o controle é mera falsaria

Numa melodia binária
Que provoca até azia
Queimação e salivação
Mas que termina numa só alegria
Redundância

Me construo em excessos.
Transbordo a cada suspiro.
Meus limites não me bastam.
Tento escoar isso e não consigo.

Não me importo com quem esteja
Não me pertuba as horas sós
Só quero que quando seja
Possa esvair-me em suas mãos
Sentir a alma, a carne e o osso
Sentir lento e sentir muito
Dar propósito à carroça do Nada
Transformá-la em Tudo

Quero isso e mais aquilo
Na verdade quero tudo!
Sorver até a última gota
Me fundir, me desfazer ...
até o momento de reescrever Tudo.

Reescrever a cada dia,
Reescrever a cada instante,
Reescrever mentiras e verdades,
estórias, contos, sons e imagens
Reescrever só. Reescrever junto.
Transformar a vida em Um
e depois desfazer e refazer
Desde que seja bem fundo ...

Na fronteira ainda não encontrada
Pois a que existe não é suficiente
Quero perceber a vida
com sua alma presente.
Escrevo

Escrevo porque vervo meu desterro
Parcos verbos que aludem
Arquitetados logos que iludem

Invento meu intento
Itenso e só

Desejo o que não vejo
Mordo o pó

Viso o conserto
Desato o nó

Escrevo porque crio meu enterro
Palavras santificam meus acertos
Apagogiados ficam os defeitos
O plural que me habita

Não tenho opostos
Tenho características várias
Que contradizem
Para o que dizem

Sou Unicidade
Que ao ser colocada na diversidade
Se traduz refratada
Fragmentada

A que age em variadas circunstâncias
A que diverge em inúmeras ações
A que quebrada
Ainda pode ser colada

A Má
A Lice
A A ou a
Há ... que ainda vai se tornar