Relato de um Final de Semana
Percebi que não sei viver. Foram me cortado todas as respostas naturais. O corpo morto não responde a seus impulsos. De repente com as doses e overdoses refleti alguma coisa, mas nunca uma manifestação real do que foi estimulado. As réplicas foram programadas e os desejos, vontades e anseios foram reduzidos ao nada. O belo virou coisa sobrenatural, inexistente num mundo normal. Se relacionar se transformou em competir. Demonstrar amor, sinônimo de brigar. Viver só pôde significar sofrer. E meu ser se resumiu em ter. Não sentir virou necessidade vital. Sem penas, mágoas ou poemas. E se por acaso a dor insistia, ópio para eximí-la. Sempre anestesiada e ocupada facilitava o não pensar. Esquecer, melhor, bloquear, remédio fundamental para continuar. Flores de plástico, papel de parede, fácil! Fingir! Estratégias para resistir.
Percebi que para viver terei que abrir meu peito e trocar meus olhos, para amar e enxergar direito. Eliminar o medo, me olhar no espelho, tocar o outro, receber dele. Caminhar sem rumo, buscar o desconhecido, desmentir o destino. Aceitar o vazio e o preencher de verdades, não mais estrume. Celebrar a existência, estar presente no mundo, dançar, sorrir, sentir. Gozar. Não indiferenciar, a felicidade procurar.
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