Carta para uma Grande Amiga
Minha Flor, temos dentro de nós uma dor latente e incurável. Coisa que nos liga de alguma forma. Assim como os enfermos que se unem por compreenderem que somente eles sabem reconhecer as dores um do outro, nós nos reconhecemos pela nossa aflição. Nossos signos se entrelaçaram nos significados. E se nos traduzimos através do oposto, incrivelmente consiguimos a peculiaridade do singular. O que nunca consegui distinguir é se essa dor é inerente ao nosso ser ou se a construímos para sublimarmos uma companhia a nosso espírito solitário. Será ela a concretização do nosso medo? De qualquer forma, temos ou criamos algo que nos funde. E de seres sozinhos, viramos séquitos. Proeza essa que ajuda a diminuir a dor que nos associa. Contraditório? Não. Se não nos tivéssemos, nos entregaríamos a náusea. Necessitamos da força do acalanto para sobrevivermos. Se mergulhássemos tão fundo, sozinhas, não teríamos retorno. Gozar completamente é morrer para a vida, é eliminar o que te une a matéria, ao outro. É transcender ao Nirvana. É desistir de se manter humana. Suas águas escuras são o mistério que instiga. Seu caminhar pelas sombras é testar a capacidade do outro de conseguir caminhar a seu lado sem precisar do auxílio de luz. Dê o revirão, mude, some, divida, compartilhe, mas sem se preocupar em alcançar o cume. Recupere o fôlego para continuar na trilha, desinchar os pés, amenizar as dores. Estou te esperando na próxima curva. Não me decepcione! Te Amo Nêga.....