Relato de um Final de Semana

Percebi que não sei viver. Foram me cortado todas as respostas naturais. O corpo morto não responde a seus impulsos. De repente com as doses e overdoses refleti alguma coisa, mas nunca uma manifestação real do que foi estimulado. As réplicas foram programadas e os desejos, vontades e anseios foram reduzidos ao nada. O belo virou coisa sobrenatural, inexistente num mundo normal. Se relacionar se transformou em competir. Demonstrar amor, sinônimo de brigar. Viver só pôde significar sofrer. E meu ser se resumiu em ter. Não sentir virou necessidade vital. Sem penas, mágoas ou poemas. E se por acaso a dor insistia, ópio para eximí-la. Sempre anestesiada e ocupada facilitava o não pensar. Esquecer, melhor, bloquear, remédio fundamental para continuar. Flores de plástico, papel de parede, fácil! Fingir! Estratégias para resistir.
Percebi que para viver terei que abrir meu peito e trocar meus olhos, para amar e enxergar direito. Eliminar o medo, me olhar no espelho, tocar o outro, receber dele. Caminhar sem rumo, buscar o desconhecido, desmentir o destino. Aceitar o vazio e o preencher de verdades, não mais estrume. Celebrar a existência, estar presente no mundo, dançar, sorrir, sentir. Gozar. Não indiferenciar, a felicidade procurar.
Reforma Agrária do Ar
Sem ilhas desconhecidas
o homem inventa um mar
no ar
para navegar

Desbrava as ondas
Se apossa das bandas
constrói seu império
real
de forma virtual

Pra não ficar feio
inventa o email
uma residência individual onde cada sujeito
de fato
têm um espaço

Mas limita o domínio,
o tamanho, e os indivíduos
mantendo o esquema
mesmo
de mendigos

Em terras os sem-teto
em bandas os sem-existência
de novo
exploração do povo