Transcendentalizando

Na selva de pedra do salve-se quem puder, constantemente grito pelo Superbacana ou pelo Kid Morengueira.
Ainda mais numa terça-feira.
Pois saturada dessa Nação de concreto, tenho rastejado no manguetal de sapos e caranguejos
E levar minha alma para passear, nem assim tem dado jeito ...
Por isso decidi matar Lupicínio e deixar Pixinguinha chorando sozinho na Luz Negra de Nelson Cavaquinho.
Refazendo-me,
Para que as Rugas de Ciro não façam parte do meu rosto,
Chamei Ossanha e clamei Chega de Saudade numa prece
Mas acabei subindo o morro de carona com o Rei no Calhambeque.
Juro que como Ismael pensei em me regenerar,
Mas como tudo ficou na Ladainha, preferi a orgia, e
Mutante como sou, viajei para o País dos Baurets
no Balão Mágico de Raulzito
Racionalizando e assimilando o novo Universo sem nenhum Desencanto
Pois desvendar o Mistério dos Planetas
Acabou com qualquer pranto
Já que nesse Circo Sem Futuro
Temos que inventar Cordéis que nos Transfigurem e curem!
Saudade

Saudade é viver fora do instante
Não ser presente
Ser pretérito futuro
De pretérito não vivido
Para futuro que não será

Saudade é angústia que consome
Sentimento que não se come
Se morre de fome

Saudade é viver sem estar
Não é o agora
É um o que virá
Do agora não vivido
Pelo que virá que nunca acontecerá
Água Viva

Parada, completamente inerte. De olhos fixos para baixo, vejo a água, que corre, límpida, diáfana, gelada. Seu gelo não sinto, mas o adivinho. Do simples saber de experiências passadas. Seu destino não sei, mas imagino. Que sendo filtrada por todas as pedras que inertes como eu fitam o seu percurso, desembocará ao encontro de si. Num lago, confluindo com a água que ali já estava. Ou de seu oposto. Num mar, onde a aspereza do sal não intimida o desejo de misturar-se ao mistério da profundidade. Mas o que pretendia falar era do medo. O qual me coloca nesse estado imóvel. Que não é o medo do encontro. É o medo do lançamento. Já pulei dessa altura outras vezes, mas dessa vez, algo me faz parar e achar que não vou conseguir. Estatizada, penso em tudo o que pode acontecer caso meu pula saia errado, descompassado. Um descálculo, um deslize e não saio mais da água, e em segundos o futuro após o lançar estará desfeito. Indecisa, o medo começa a subir pela espinha, lentamente. Arguto, se faz delicado e racional ao mesmo tempo que petrifica e entontece. A lucidez é a desculpa do medo. Com prudência sento na pedra e balanço minhas pernas. A gravidade as puxa e me ampara na decisão de não mergulhar. Prefiro o caminho das pedras ao ar, penso. Desço e já à beira, entro cuidadosamente. A cada passo a água gelada que está, me agulha sem piedade. Não me agulharia assim se a invadisse num só pulo. Pedindo licença singelamente, ela me analisa de forma grosseira. Submergida, olho para cima. E mesmo embaçado, consigo observar o quão alto estava. É, dessa forma estou mais confortável. Nado e me integro à água, à vida. Queria o salto, mas no momento, o caminhar se coloca menos tenso.
.?!...

palavra muda
de um silêncio ensurdecedor
palavra cega
pela ausência de cor
sem sentidos, se perde
em seu próprio lar

e a que era minha heroína
debilitada não socorre
confunde
arruína

composta de interrogações
e reticências
e pontos finais
exclamo pela palavra
afirmando minha dependência
nego-me

acompanhada de interjeição
dessentida sei que não está
e mesmo angustiada
sei que a melhor solução é aguardá-la

vai se recuperar...
e eu também!
será?
vai.